Atualmente trabalho no educandário
Imaculada Conceição (EIC) tradicional escola de Florianópolis onde ministro
juntamente com outro professor aulas de futsal como disciplina extracurricular
nas terças e quintas de noite e nos sábados no turno matutino.
No ultimo sábado do mês de setembro
estava programada a participação da escola nos jogos das escolas católicas, realizado
no colégio catarinense. Neste dia eu ficaria responsável pela equipe que
disputaria o futebol de campo. Infelizmente ou felizmente neste dia choveu e a
competição foi realizada com esportes que seriam disputados dentro dos
ginásios. Por esse motivo fui designado a me dirigir ao EIC para ministrar a
aula de futsal para as crianças do nível II (6 a 8 anos).
As aulas no sábado iniciam-se a partir
das 08:30 da manha, cheguei mais cedo para arrumar o material no qual achava
que iria utilizar. O primeiro aluno chega e já pede uma bola para ir brincando,
aos poucos os demais alunos foram chegando. Sem ter preparado uma aula
especifica para este dia e prestes a dar o horário de inicio da aula, comecei a
reparar a organização e a autonomia dos alunos em relação ao jogo em que
estavam jogando, assim comecei a identificar quais as regras eles estavam
utilizando. Junto com eles estava jogando um menino do nível III, aluno em que
seu horário de aula era após o do nível
II, possuía mais força física e qualidade no jogar. As regras do jogo era as
seguintes: a bola não saia pelas laterais nem pela linha de fundo da quadra e
eram todos os alunos do nível II contra o único do nível III e mais um goleiro.
A partir desta visualização lembrei-me
do texto que li para apresentar na disciplina de metodologia – ensino –
educação física no curso de licenciatura em educação física. O texto com
abordagem critico-emancipatória relatava a experiência de um professor de
educação física em duas escolas publicas de Florianópolis de um jogo denominado
“futebol de seis Quadrados”, jogo em que os alunos ajudaram a construir e que
objetivava o ensino aprendizagem da modalidade de futebol aos alunos de forma
que todos pudessem aprender a jogar futebol a partir de uma adaptação do jogo
convencional. Diante de essa lembrança rápida decidir como objetivo realizar e
construir jogos com os alunos que auxiliassem o ensino da modalidade futsal e a
participação igualitária de todos, já que quando o jogo convencional é
utilizado uns sempre participam mais que os outros.
Para iniciar a aula eu nem comecei,
simplesmente deixei os alunos continuarem jogando o jogo em que estavam jogando
como atividade de aquecimento, pois não fazia sentido parar o que eles estavam
fazendo para propor uma atividade lúdica para fazer o que eles construíram
sozinhos suprindo assim o que uma atividade de aquecimento deveria suprir.
Minha intervenção começou por volta das 08:50, isso porque muitos pais começaram
a olhar para o relógio e certamente indagando-se de que horas a aula teria
inicio sem saber que a aula já havia começado.
Em seguida chamo os 12 alunos que
apareceram neste sábado meio chuvoso para a aula começasse (no ponto de vista
deles), com a intervenção do professor. Propus a primeira atividade, um jogo no
qual foi dividido duas equipes com seis alunos em cada, utilizamos dois cones,
uma corda de 5 metros e uma bola como materiais. As regras eram a seguintes:
cada equipe possuía 3 defensores e 3 atacantes e cada trio se posicionava em um
lado da quadra, os alunos foram instruído de que não podia um ir para o lado do
outro. A corda ficou posicionada no meio da quadra suspensa pelos dois cones e
o objetivo era os defensores passar a bola para os atacantes por baixo da
corda, quando a bola passasse por cima da corda ou pelo lado de fora dos cones
era dada falta para a equipe adversária. Esse jogo não possuía goleiro,
portanto definimos a regra de que o gol só era contabilizado se fosse feito
dentro da área, assim possibilitando a troca de passes e evitando os
tradicionais chutões, que é normal para crianças desta idade em processo de
aprendizagem. Além de esse jogo incentivar a troca de passes ele possibilitou o
respeito pela organização de suas posições, já que no jogo jogado
tradicionalmente, nesta idade a tendência dos alunos é todos irem à cima da
bola ao mesmo tempo. O jogo foi jogado durante dois tempos de oito minutos
quando em cada tempo os alunos revessaram as suas posições, um tempo ataque
outro defesa. Após liberei os alunos para tomarem água. Quando voltaram fomos
conversar sobre qual seria o próximo jogo e veio a surpresa! Pediram para jogar
mais um pouco o jogo no qual havíamos acabado de jogar. Jogamos mais dois tempos de 5 minutos.
Dando progressão a aula, partimos pra segunda atividade, sugerir que eles pensassem um jogo que eles jogam em casa, na rua, com qualquer pessoa pra que pudéssemos adaptar para nossa aula. Ligeiramente a grande maioria sugeriu o golzinho fechado, uns porque jogam em casa com os pais e os irmãos outros porque jogam nos condomínios e outros ambientes com seus colegas. Partimos para compor as principais regras que foram de que o gol só era valido quando feito por trás, essa sugerida por mim e outra de que a linha de fundo fosse linha de lateral, além da zona de proteção do gol que era dois passos de dentro para fora do gol que impossibilitava a permanência dentro do gol, quando o gol era interceptado dentro da zona de proteção era marcado pênalti. Cada gol fechado tinha a largura de um metro e foi feito por dois cones cada lado posicionados em cima da linha de fundo da quadra de vôlei, assim o campo de jogo utilizado foi dentro da quadra inteira. No meu ponto de vista esse jogo mostrou que os alunos já possuem uma inteligência tática organizando-se em setores fundamentais para defender e atacar. As equipes formadas por seis alunos se organizou dentro de quadra da seguinte forma: um ficava para defender a parte de trás do gol (zona de proteção), um na parte da frente do gol para evitar que a bola passasse para a parte de traz do gol, três eram responsáveis em pegar a bola da defesa e levar a bola ao atacante e o atacante ficava já posicionado atrás do gol adversário.eram responsáveis em pegar a bola da defesa e levar a bola ao atacante e o atacante ficava já posicionado atrás do gol adversário.
Para finalizar a aula deste dia como
havia ainda cerca de 15 minutos sugeri outro jogo que buscaria mais similaridade ao
futsal convencional, porém neste dia estávamos com problemas de goleiros, por
isso os jogos anteriores foram realizados sem a presença deles. Quando
perguntei quem se disponibilizava a serem os goleiros ninguém se manifestou com
exceção de um que me questionou, “porque todos não podemos ser goleiro ao mesmo
tempo?”, a idéia genial colou e o último jogo foi realizado da seguinte forma:
dois times de seis jogadores para cada lado onde os jogadores não poderiam
fazer gol de dentro da área e quando alguém chutava para o gol qualquer jogador
de um mesmo time poderia defender com a mão dentro da área. O mais interessante
foi ver a percepção de perigo de gol que a equipe que não tinha a posse de bola
possuía, os alunos automaticamente se posicionavam em frente ao gol para evitar
o chute e quem estivesse mais próximo da área se posicionava como goleiro. Uma
atividade que contribui para organização coletiva dos alunos e que incentiva e
oportuniza uma vivencia da participação de todos como goleiro de uma forma
prazerosa.
Uma aula mesmo sendo em escolinha de uma
determinada modalidade esportiva no meu ver torna-se muito mais interessante ao
aluno quando ele participa do processo de construção, muitos alunos participam
de escolinhas pelo fato de ser um ambiente que ele pode se socializar e fazer
novos amigos e não necessariamente pela modalidade praticada propriamente dita.
As possibilidades de um jogo onde a coletividade seja o foco no processo de
ensino aprendizagem faz com que cada criança seja importante para o jogo, de
modo que ela brinque com o jogar e realize os objetivos do jogo brincando sem
determinadas exigências que às vezes a reprime e obstrui a aprendizagem e o
prazer da prática. Na descrição das atividades realizadas nesta aula nenhuma vez eu mencionei sobre os resultados de cada jogo, pois o resultado
tornou-se apenas uma herança do jogo convencional que mesmo os alunos
preocupados com ele, o resultado se tornou menos importante do que o necessário. A
dinâmica a troca de passes e a organização dos alunos foram os fatores que mais
ficou evidente durante os jogos. Para provar o que digo terei que por os
resultados dos três jogos: jogo um 2x1, jogo dois 1x0 e jogo três 1x0. Se
compararmos que quando esses mesmos alunos jogam um jogo de futsal com as
regras que nele estipula os resultados são elásticos conclui-se que o gol se
torna o mais importante no jogo e passa ser o único objetivo do jogo, a
organização das posições, o domínio, o passe e outros fundamentos passam a ser
esquecidos acontecendo os eventuais chutes para qualquer lado, em qualquer
distância, o aglomero em cima da bola, etc. os objetivos de fundamentos
acontecem somente quando os professores ficam solicitando o que cada deve fazer
e como fazer, onde de certo modo intimida o prazer e a criatividade ao brincar
com a bola, reproduzindo movimentos específicos. A abordagem
critico-emancipatória (compreendendo que essa abordagem apresenta uma
complexidade maior do que foi dito até aqui) utilizada neste ambiente de
aprendizagem apresentou-me evidencias visuais e perceptivas do prazer em
participar, interagir e respeitar as normas estipuladas, mostrando-se como um
método interessante para trabalhar o ensino de modalidades esportivas.
Ronaldo Matias;
Graduando licenciatura em educação física na UFSC
e integrante do GECUPON-Futebol.
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